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Especial — Ultimato 45 anos

Ultimato nasceu na cidade da loucura

Foi em 1966. Decepcionei-me com São Paulo e mudamo-nos para Barbacena, MG, que era chamada a Cidade da Loucura – embora fosse também a cidade das históricas famílias Bias Fortes e Andradas e da sede da famosa Escola Preparatória de Cadetes do Ar. Era conhecida como a Cidade da Loucura por causa da vergonha do Hospital Colônia de Barbacena (ver página 20). Por brincadeira ou não, colocava-se em jogo a saúde mental da pessoa que se mudasse para Barbacena, que só deixou de ser a Cidade da Loucura quando o antigo depósito de alienados se transformou no Museu da Loucura, em 1996, trinta anos depois de minha chegada à cidade.
 
Por ter me mudado para Barbacena com a perna direita engessada do pé à virilha, eu respondia à brincadeira com outra brincadeira: “Para eu não ficar com uma perna menor que a outra, o cirurgião colou os dois pedaços de minha tíbia com dois parafusos tirados da cabeça”. Isso explicava a minha “loucura”.
 
Parecia mesmo uma imprudência deixar São Paulo e ir para Barbacena. Fomos para aquela cidade em setembro, quando a transferência de uma escola para outra, sobretudo de um estado para outro, não era fácil. Todavia, não tivemos a menor dificuldade em matricular Júnia, de 7 anos, Lênia, 6, Klênia, 5, e Délnia, 3, no Grupo Escolar Bias Fortes. Gínia, a caçula, que havia acabado de nascer, continuaria analfabeta por mais algum tempo.
 
Outra loucura, talvez a maior de todas, era de ordem financeira. Por oito meses fui o pastor encarregado de organizar uma nova igreja no bairro do Planalto Paulista, perto da Praça da Árvore, em São Paulo, a convite da Igreja Presbiteriana do Calvário, no Brooklin Paulista, cujo pastor era o Rev. Boanerges Ribeiro, que, naquele ano, foi eleito pela primeira vez presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil. Durante aquele tempo, recebi um salário muito bom, melhor do que qualquer outro anterior, além do aluguel da casa. Porém, como a mudança foi brusca, sem planejamento, apoiei-me não no profano e irresponsável “Deus dará” para obter o sustento da família, mas no sagrado e prudente “O Senhor proverá”. E deu certo. Cada um dos pastores do meu presbitério – o Presbitério de Campos – destinou 50 cruzeiros de sua folha de pagamento para formar meu salário. Pouco mais de um ano depois, a Junta de Missões Nacionais da Igreja Presbiteriana do Brasil assumiu jurisdição sobre o campo missionário de Barbacena e sobre o meu salário.
 
Alguns meses depois de nossa chegada, o agrônomo e guia leigo metodista Flamarion Coutinho nos emprestou um terreno de esquina no centro da cidade e nele construímos um templo para mais de cem pessoas, onde comecei a pregar o evangelho. 
 
Fui grávido para Barbacena. Estava esperando o meu único filho – o jornal Ultimato, que depois de oito anos, naturalmente por pressão de Djanira, minha esposa, e das filhas, tornou-se a revista Ultimato. Foi uma gravidez que durou dezoito meses, o dobro da gravidez feminina, pois a concepção se deu em junho de 1966, quando eu ainda estava em São Paulo, e o nascimento da “criança” aconteceu no dia 13 de janeiro de 1968, na Cidade da Loucura.
 
A gravidez começou quando o presbítero Paulo César me pediu para escrever a história de alguns jornais presbiterianos antigos para publicar no “Brasil Presbiteriano”. Depois de uma cuidadosa pesquisa, descobri que quase todos vieram a lume para evangelizar o Brasil. “O Imprensa Evangélica”, primeiro jornal protestante de toda a América do Sul, por exemplo, dizia em sua primeira edição (novembro de 1864): “O anúncio do evangelho não pode depender só do púlpito”. O “Púlpito Evangélico”, lançado dez anos depois (1874), surgiu com o propósito de levar “as mesmas doutrinas que chamam ao arrependimento” a milhares de leitores, já que “o número de pregadores é ainda pequeno”. Um terceiro jornal, o “Salvação da Graça” (1875), nasceu com o objetivo de “chamar os homens das trevas para a luz, guiar os pecadores ao Salvador e edificar na verdade”. O “Evangelista” (1885), como o nome diz, tinha o propósito de evangelizar. Antes de se tornar um jornal denominacional, O “Puritano”, lançado pela Associação de Propaganda da Igreja Presbiteriana do Rio em 1898, pretendia fazer propaganda do evangelho – não de igreja –, numa época em que apenas 0,3% dos 700 mil habitantes da velha capital frequentavam os templos evangélicos. Por último, a revista “Fé e Vida”, fundada por Miguel Rizzo Jr. em 1930, apareceu para evangelizar a elite (tinha o mesmo formato de Seleções). Acordei, então, para o fato de que naquela década (1960) os periódicos eram muitos e de boa qualidade, mas em geral só visavam aos leitores crentes e serviam às suas próprias denominações. Essa dupla constatação fez nascer a pálida ideia de suprir a lacuna e fundar um jornal que chamasse a atenção de cristãos e de não cristãos.
 
Foi também na Cidade da Loucura que recebi a inspiração do nome da criança” graças a um incidente muito curioso. Fiquei eufórico por ter conseguido, com a ajuda do deputado e presbítero Athos Vieira de Andrade, o primeiro programa radiofônico evangélico na história de Barbacena, na Rádio Correio da Serra. Quando fui fazer o primeiro programa, o deputado Andradinha, da mesma bancada do doutor Athos, dono da emissora, me chamou à parte. Ele me disse que teria de voltar atrás na concessão do horário (que não era de graça) porque havia recebido um ultimato do cônego Hilário, da Basílica de São José Operário: se os protestantes entrassem, ele deixaria de apresentar o seu programa católico. Impressionado com a força de um ultimato e lembrado das palavras gravadas na parede de nosso templo em Barbacena – “Buscai o Senhor enquanto se pode achar” (Is 55.6) –, entendi que era esse o mais apropriado nome para dar ao jornal prestes a nascer. Naquela extraordinária manhã, perdi o programa de rádio, mas ganhei o nome da “criança”, que nasceu poucas semanas depois e que no dia 13 de janeiro de 2013 completou o seu 45º aniversário.
 
Deus favoreceu o povo judeu e a nós ao se revelar por meio de diferentes nomes, que permitem uma visão sem igual de seu amor e retidão: Jeová Jiré (“o Senhor proverá”), Jeová Nissi (“o Senhor é a minha bandeira”), Jeová Samá (“o Senhor está aqui”) e Jeová Sabaoth (“o Senhor dos Exércitos”). Se não for pecado agradar-se mais de um do que dos outros, escolherei o primeiro, Jeová Jiré, por lembrar a provisão do carneiro para o lugar de Isaque no sacrifício que Abraão deveria oferecer a Deus. A pergunta de Isaque ao pai, quando ambos subiam o monte Moriá, foi muito lógica: “Meu pai [...], as brasas e a lenha estão aqui, mas onde está o cordeiro para o holocausto?”. E a resposta de Abraão foi também muito lógica: “[...] Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho” (Gn 22.7-8). A lógica não do mundo natural, mas a lógica da fé, explica certas loucuras de cristãos, quando não há fanatismo religioso nem precipitação, a começar com a “loucura” de Abraão, o pós-doutor em fé, quando ele não hesitou em oferecer ao Senhor seu único e amado filho, que custou tanto a nascer.
 
Quando meu filho nasceu, ainda não havia enxoval nem bercinho para ele. Escrevi ao Conselho da Igreja Presbiteriana de Viçosa, da qual fui um dos fundadores e o primeiro pastor, perguntando se a igreja poderia dar o empurrão inicial, pagando as despesas gráficas do primeiro número Barbacena – “Buscai o Senhor enquanto se pode achar” (Is 55.6) –, entendi que era esse o mais apropriado nome para dar ao jornal prestes a nascer. Naquela extraordinária manhã, perdi o programa de rádio, mas ganhei o nome da “criança”, que nasceu poucas semanas depois e que no dia 13 de janeiro de 2013 completou o seu 45º aniversário. Deus favoreceu o povo judeu e a nós ao se revelar por meio de diferentes nomes, que permitem uma visão sem igual de seu amor e retidão: Jeová Jiré (“o Senhor proverá”), Jeová Nissi (“o Senhor é a minha bandeira”), Jeová Samá (“o Senhor está aqui”) e Jeová Sabaoth (“o Senhor dos Exércitos”). Se não for pecado agradar-se mais de um do que dos outros, escolherei o primeiro, Jeová Jiré, por lembrar a provisão do carneiro para o lugar de Isaque no sacrifício que Abraão deveria oferecer a Deus. A pergunta de Isaque ao pai, de Ultimato, e a reposta foi positiva. Além disso, o conselho permitiu que o seu pastor, meu irmão Éber, usasse a Kombi da igreja para percorrer as cidades do Presbitério Leste de Minas para divulgar o jornal e angariar as primeiras assinaturas, com as quais começaríamos a manter financeiramente o periódico.
 
Em 1969, a Junta de Missões me transferiu para Porto Alegre. No ano seguinte, fomos para Campinas. Em 1971, o “garoto” de 3 anos foi malcriado comigo: “Não aguento mais ir de um lugar para outro. Que tal irmos para Viçosa, que me deu o enxoval e o bercinho?”. Foi o que fizemos. E o garotão, nascido na Cidade da Loucura, hoje é quarentão. Ele inventou um neologismo, o verbo “jeovajirar”, que quer dizer: “o Senhor proverá”. Assim, toda a equipe da Ultimato diz a uma só voz: “jeovajirou” – o Senhor proveu!

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